quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Incompletudes



O que seria da chuva
Sem ter aonde cair
De que vale ser palhaço
Sem ninguém pra fazer rir
E de que vale mentir
Sem o verbo acreditar
Ou mesmo pra que ganhar
Se o prêmio não compensa
E pra que a paciência
S’ela nunca me notar?

É que tudo tem um norte
Não há azul sem ter cor
Não há cova sem a morte
Não há saudade sem dor
Não há razão sem amor
Não há paixão sem tesão
Não há modéstia sem chão
Não há um poço sem fundo
E pra mim não há um mundo
Sem ela no coração!

João Pessoa, 29/09/2010.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

O alívio no teu assopro



Assopra minha alma, por favor,
que ela está ferida e ardendo;
que ela de ardor está gemendo
e só o teu assopro tem fulgor
e o poder de aliviar a dor
que minha pobre alma atormenta;
pois teu assopro é brisa que acalenta
a brasa que me queima assim por dentro.
Só teu assopro abala o epicentro
da dor que a minh’alma adoenta....

Por isso faz assim: inspira amor
E espira teu assopro no meu olho;
Que, sendo ele a porta da minh’alma,
Pra ti eu tiro a trinca e o ferrolho!

João Pessoa, 28/09/2010.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Babuleta colorida



Borboleta colorida
Que hoje namora a flor
Esqueceu que foi minhoca
Que nos galhos se arrastou
E que derna desse tempo
A folha lhe tinha amor!

Nesse passo a gente vive
Vendo um amor que sobe
Esquecer-se do passado
Cercar-se da laia esnobe
E humilhar quem lhe ama
Derna de quando era pobre!

João Pessoa, 27/09/2010

domingo, 26 de setembro de 2010

O Estilingue



O galho se torna arma
A pedra se torna bala
O elástico s’estica
E, liberto, a pedra embala
E se acaso a mira vingue
O tiro do estilingue
É fatível de matá-la!

Caso o tiro tire um fino
A lagartixa se acoa
E no buraco do muro
Do seu agressor caçoa
Enquanto que o menino
Diz: escapou por um fino,
Que a mira não tá boa!

E a Lagartixa pensa
Entocada no buraco
Que se ela também fosse
Evolução do macaco
Pegaria um tijolo
E mirava no miolo
Do menino boi-tabaco!

Timbaúba, 26/09/2010.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Coqueiro enciumado



O vento vem lá do mar,
Donde a vista já nem rela,
Empurrando o qu’encontrar,
De navio à barco a vela,
Somente pra ser a sanha
Que na calçadinh’assanha
Os fios do cabelo dela.

Enquanto isso o coqueiro,
Vendo esse chamegado,
Põe um coco de ciúme
E ainda enciumado
Faz bico, recolhe a palha
Chama o vento de canalha
E se vira pr’outro lado!

UFPB, 23/09/2010.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

O gato voador



Tem um gato voador
Morando no meu lixeiro
E esse novo inquilino
Tem no furo derradeiro
Algum turbo propulsor
Pra voar feito um morteiro!

Digo isso porque ontem
Relaxadamente eu ia
Jogar o lixo no lixo
Aonde o bicho dormia
Pensando que aquele lixo
Somente a mim pertencia

Era quase meia noite
Eu tava um tanto atrasado
E talvez por conta disso
O gato desavisado
Dormia seu quinto sono
Altamente relaxado

E como a toda rotina
A gente se habitua
Lá ia eu com meu lixo
Bestando e olhando a lua
Seguindo rumo ao lixeiro
No muro perto da rua...

O lixeiro era um tonel,
Nada de muito esquisito,
E nessa noite já tinha
Uns dois palmos de detrito
Quando eu fui com meu lixo
Abastecer o bendito!

Quando eu joguei um saco
Assim a meia distância,
Meu amigo, minha vida
Do presente à minha infância
Passou perante meus olhos
E levou minha elegância!

Qu’eu dei um pulo pra longe
Quando o gato assustado
Saiu voando do lixo
Não menos desesperado
Numa cena de terror
Cada um correu pr’um lado!

E eu no medo do gato
Por pouco não me espicho
Pois nem mesmo em pesadelo
Nunca tinha visto bicho
Sair voando de dentro
De uma lata de lixo!

Porém de então para cá
Tou muito bem vacinado
E quando vou jogar fora
O meu lixinho sagrado
De longe já vou berrando:
-Lá vai lixo, seu viado!

João Pessoa, 22/09/2010.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Ao Doutor descobridor de mazelas



Ah doutor, agora essa
De retificar lordose,
Que o prumo do meu corpo
Tem a tal escoliose
E que com vinte e dois anos
Meus ossos já têm artrose?

Sinceramente, Doutor,
Já não basta a espondilite?
Não basta viver com dor
-Dor sem hora e sem limite?
Não basta ser portador
De algo que incapacite?

É complicado, Doutor,
Eu inda sendo tão moço
Saber que meu amanhã
É cativo de um fosso
Se na vida faço tudo
Pra ser um grande colosso!

Já é difícil sorrir
Mesmo tendo-se saúde
Imagine pra quem tem
No auge da juventude
O seu corpo condenado
A essa decrepitude...

Aí quando eu lhe vejo
Descubro outra mazela,
O senhor vê que meu corpo
Sofre de outra querela
E eu saio da consulta
Vendo a vida menos bela!

Eu sei que o senhor não tem
Culpa no meu padecer
E lhe peço: Ah Doutor,
Tente me compreender
Caso no seu consultório
Eu brade "vá se fuder"!
.
Pois que "se foda" a artrose;
Que "se foda" a espondilite,
Os bicos de papagaio,
Alergias e rinite;
Que enquanto eu souber rir
Não há dor que me limite!

João Pessoa, 21/09/2010.

domingo, 19 de setembro de 2010

Cantiga de Anne

A cantiga de Anne trata-se de uma canção de ninar feita para a maestrosa, e infinitamente linda, princesa Anne Luísa - minha primeira sobrinha. Na postagem segue ainda o link da música interpretada pela fantástica Bruna Alves.

Clique neste link para ouvir: http://dl.dropbox.com/u/11174832/Cantiga%20de%20Anne%20-%20Bruna%20Alves%20%26%20Jess%C3%A9%20Costa.mp3




Não chores. Anne, não chores....
Sinta o acalento que vem
Dos braços que te balançam,
Do peito que te quer bem!

Não chores. Anne, não chores...
Não jogue seu pranto ao léu
Pois quando teu choro soa
Os anjos choram no céu!

Não chores. Anne, não chores...
Durma e volte a sonhar
Deixe qu’eu faço do mundo
Um bom lugar pra morar!

Não chores. Anne, não chores...
Ouça o que vou te dizer
Deus não se esquece da gente
E cuidará de você...

Recife, 19/09/2010.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Minha saudade

Uma chuva de tanajuras



Saudade lembrou-me o dia
Onde, menino poeta,
Cheguei até a esquina
E dei a volta completa
Sem precisar de rodinhas
Na magrela bicicleta!

Saudade lembrou-me as tardes
Com toda sua lisura
Onde meu eu mais matreiro
Caçador na captura
Corria fitando o céu
Que chovia tanajura!

Saudade lembrou-me as noites
De brincadeiras na rua
Pega-pega, pique-esconde
Tudo isso a luz da lua
"Seu rei mandou" e cuscuz,
- A minha é depois da tua!

Saudade lembrou-me o saco
Que, meus brinquedos, guardava;
Bonecos, bolas, piões
E nesse tanto se achava
Um caminhão dos bombeiros
Do qual eu tanto gostava!

Saudade lembrou-me as vezes
Que, ganhando um capital,
Eu corria pr'um fiteiro
Sorridente e bestial
Pra torrar toda fortuna
Que me era um só real!

Saudade lembrou-me o tempo
Qu’eu inda era um girino
Correndo naquela rua
Sem sofrer de desatino
Saudade lembrou-me o quanto
Foi bom ter sido menino!

João Pessoa, 16/09/2010.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Poesia de bar №3

Roedeiramento



O tanto que vale o sol
Sem a terra pr’aquecer
E o tanto que vale a terra
Sem os seres pra viver
Vale o coração do homem
Que não tem por quem roer!

O cachorro rói o osso
Pr’um tico de carne achar
O rato rói o caroço
Para seus dentes serrar
E o homem, velho ou moço,
Rói por não deixar de amar...

O sentimento roído
Pela paixão mais sofrida
Fortalece o organismo
Cicatrizando a ferida
E roendo por amor
Sai-se mais forte pra vida!

João Pessoa, 11/09/2010.

domingo, 12 de setembro de 2010

Questão de gosto



É bonito a mulher
Que alisa seu cabelo
Pra ficar olhando o céu
Com medo do desmantelo
Que um reles pingo d’água
É capaz de acometê-lo??

E é bonito a mulher
Que pinta todo o semblante
Pensando ficar mais bela
Quando tem o resultante
De parecer um palhaço
Ou um guerreiro xavante?

Cada um pensa d’um jeito
E faz o que necessita
Mas como gostar de alguém
Que, a si, desacredita?
Quem foi que convencionou
Que a Barbie é que é bonita?

Moça enrole seus cachos
Não pinte tanto seu rosto
Se amostre como acorda
Deixe seu “eu” mais exposto
Que o bonito na vida
É tão só questão de gosto!

João Pessoa, 12/09/2010.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Gravação Inopinada

Um protótipo de modelo do ensaio da coisa antes dela ser a coisa propriamente dita


Lua Enamorada - Jessé & Ewerton Barra

Olha a lua esbanjando claridade
Esborrando um brilho fluorescente
Brilha atrás dum amor, um expoente
Que flameje na mesma intensidade.
Mas, cansada, ela perde a faculdade
De brilhar e, assim, se escurece;
É então que o sol vem e aparece
Atirando 10 mil quilos de luz
E, assim, dia e noite se conduz
Num encontro que nunca acontece!

Muda a Lua pelo amor proibido,
Sentimento bem platonificado,
Todo peito tem um desse guardado
Num cuvico entocado e escondido.
É incompleto quem não tenha sofrido
Por gostar de alguém que não lhe quis;
Fui um padre que amava a meretriz
Fui juiz que amava a condenada
E entre o dia e a noite enluarada
O arrebol delineia a bissetriz!


Jessé Costa
João Pessoa, 03/04/2009.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Simplesmente Acontece

Um belo dia a gente apenas se dá conta e... tchá!



Sabe lá como acontece
E tão pouco importa a forma
Pois paixão não segue norma
Ela muda, se conforma
E nada lhe conceitua!

Só de repente acontece
Num misto de guerra e paz
Tudo reluz, brilha mais,
E a solidão se jaz
Na luz de trezentas luas!

De forma que acontece
E o coração demente
Deixa as almas frente a frente
Rente ao inconseqüente
E completamente nuas!

João Pessoa, 06/09/2010.

Beirada de Açude



Na beirada do açude
O sapo deixa o girino
A piaba se ilude
Fisga a isca do menino
E a vaca mata a sede
Enquanto chacoalha o sino!

A lagarta se encasula
Na sombra de uma folha
Um beija-flor confabula
Beija uma flor caolha
E a formiga é matula
Trabalhando sem escolha...

O girassol se encerra
Quando o sol guarda o açoite
A tarde deita na terra
Adormece, vira noite
E a luz da lua berra
O penar do seu tresnoite!

No anoitado do açude
A saparia coaxa
O encantado se encanta
O curupira despacha
E se folhagem balança
Cumade Fulô se acha!


João Pessoa, 06/09/2010.

domingo, 5 de setembro de 2010

É a sina do Poeta



“Adespois” de muito tempo
Tendo medo de amar
Conseguir reaprender
A querer e a gostar
Para logo no porvir
Outra vez se iludir
E desse sentir descrer
Vendo seu amor mirrar,
O amar se transmutar
E voltar a ser sofrer!

É a sina do poeta
Amar tudo em seu caminho
Jogando seu coração
Num engenho de moinho
Que o sentimento definha
Que faz do amor farinha
Pro sofrer alimentar
É a sina de quem ama
Ter um peito que inflama
Quando inventa de amar!

João Pessoa, 05/09/2010.