terça-feira, 30 de março de 2010

Feições que Tapeiam


Cuidado, não julgue alguém
olhando só a voluta,
pois o terno que ele tem
e a primorosa conduta
dissimulam sua essência
e detrás dessa aparência
se esconde um fela da puta!

Não queira julgar ninguém
logo assim que bate a vista,
pois um vigário também
pode ser um terrorista
e um seguidor do alcorão,
chêi de mala no saguão,
pode ser só um turista!

Assim não faça juízo
se não conhece o rapaz,
pois o seu jeito de liso
esconde a grana que trás
e foi julgando que a cruz
levantou-se com Jesus
ao invés de Barrabás!

Lembre-se: Buda era gordo,
Gandhi era esmolambado,
Madre Tereza fraquinha,
Frei Damião envergado,
o PT era do povo,
Collor bonitinho e novo...
E tá dado meu recado!

João Pessoa, 30/03/2010.

domingo, 28 de março de 2010

Aviãozinho de Papel



Desenhei meu coração
num pedaço de papel,
fiz da folha um avião
depois sacudi no céu
e o avião turbinou-se,
para o espaço danou-se
mais veloz que um corcel!

Foi alto pra ter mais vista
e assim lá procurar
dentre todas qual a pista
que lhe serve pra pousar
e só não desceu ainda
por ter muita pista linda
querendo lhe aterrissar...

Este avião de papel
no espaço sideral
se gravita em carrossel
buscando em terra um sinal,
arrudeando o planeta
como que fosse um cometa
ou um ser celestial

Sem perder de vista o mundo
e também as belas pistas
segue seu vôo fecundo
sozinho, como os autistas,
carregando em sua face
um coração que renasce
pronto pra novas conquistas!

João Pessoa, 28/03/2010.

Iluminado



Foi começando outro dia
e nele o carro do sol
subiu rasgando o arrebol,
com a luz que principia,
e então a profecia
do profeta infiel
surgiu bem neste painel
sem ninguém nem perceber:
o sol deu a luz a um Ser
que então caiu do céu!

Nasceu um iluminado,
filho do astro solar,
capaz de alumiar
o temporal mais nublado
e este Ser encantado
teve do sol a missão
de vagar sem direção
pelos caminhos da terra
salvando quem se aterra
nos poços da escuridão!

Este Ser, sã criação
que rezou a profecia
não mais é que a poesia
que ilumina um coração,
filha do sol, a visão
d’um mundo “primaverado”
onde o sombrio é fadado
a morrer na indireta
dos traços de um poeta
e seu Ser iluminado!

João Pessoa, 28/03/2010.

sábado, 27 de março de 2010

Dou um doce...



Você pode até falar
e fazer minha caveira
esquentando minha orelha
de tanto me difamar,
mas você perceberá
que seus tiros de festim
não vão te levar a um fim
e eu tou pagando pra ver:
Dou um doce se você
um dia esquecer de mim!

Da minha vida sumiste
como uma fugitiva
e usaste a prerrogativa
de ainda estar muito triste,
porém logo mais se vistes
nos braços de outro afim
usando esse arlequim
pra tentar me esquecer!
Dou um doce se você
um dia esquecer de mim!

Mudaste como quem muda
de sutiã e calcinha
pensando ser nesta linha
que passa o trem da ajuda,
porém se alguém te estuda
vê que não é bem assim
e nem um Marcos Pasquim
irá te satisfazer
Dou um doce se você
um dia esquecer de mim!

Pois nas noites de luar
mesmo que com outro estejas
notarás que o que desejas
é do meu beijo provar
mas só poderás beijar
a boca de um manequim
e verás o quanto é ruim
amar e não poder ter!
Dou um doce se você
um dia esquecer de mim!

João Pessoa, 27/03/2010.
Mote de Wellington Vicente
Glosas de Jessé Costa

domingo, 21 de março de 2010

Carta ao Cupido



Um homem entra no bar tendo nos olhos uma expressão intensa, porém vaga. Solitário ele afunda numa cadeira e roga ao garçom por uma dose de cachaça! (Como pôde ela tê-lo deixado? Como pôde aquele homem, outrora tão forte, estar tão fraco?)

Já se passaram duas horas desde que ele adentrou no recinto e já se foram duas garrafas de cachaça...

O homem, então, pede ao garçom um retalho de papel. Está bêbado e mais poeta do que nunca. Está decidido: vai escrever uma carta!

É então que o ébrio poeta começa a inundar de tristezas, derramadas nos traços do grafite, aquele pedaço de papel. Ele escreve com a voracidade de quem muito esperou e pouco tempo tem. Ele escreve sem parar, mal respirando. Sua dose agora continua no copo, sem a menor pretensão de ser consumida. Ele apenas escreve, escreve e escreve...

Desta forma, sem fazer uso do sobejo de sanidade que lhe restava, ele compõe esta epístola para o tal cupido, que tanto o fizera sofrer:


Ilustríssimo arqueiro,
gostaria de saber
por que desferiste a flecha
que hoje me faz sofrer?
Será que eu merecia
amar quem não me queria
ou será que foi você
que esqueceu de alvejar
e assim fazer me amar
quem me fizeste querer?

Sublime senhor cupido,
eu tenho toda razão
de estar aborrecido
com esta situação,
pois depois da tua flechada
não vejo graça em mais nada
que não me lembre daquela
que tu displicentemente
colaste em minha mente
sem me colocar na dela...

Agora veja você,
analise a conjuntura,
hoje eu vivo a beber
afogando a amargura
no álcool, esse elixir
que me ajuda a reprimir
a imensa dor que carrego
por não ser o detentor
da dona do meu amor,
da flor que eu tanto rego!

E assim, divino ser,
deixo-lhe aqui minha queixa
torcendo pra o senhor ler
e lendo, então, que se mexa;
pois no ponto em que me encontro
logo mais me desencontro
da razão de se viver
e eu digo: Falta bem pouco
qu’eu já tou ficando louco
e escrevendo pra você!

PS.: Senhor cupido
deixo uma sugestão
não desfaça seu encanto
só conclua sua missão!
Pegue uma flecha amarela
escreva meu nome nela
e arremesse no meu bem
pra que ela se derrame
e para que sempre me ame
como eu a amo também!

João Pessoa, 21/03/2010.

domingo, 14 de março de 2010

O Parquinho


Desce um sonho de menino
no escorrego da lembrança
quando o tempo, sem destino,
deixava-nos ser criança!

Sobe e desce um sorriso
na gangorra da memória,
um pretérito preciso,
pedaço de nossa história!

Vai e volta à esperança
num balanço de saudade
daquela inocência mansa
cheia de felicidade!

E a toda velocidade
gira a roda do passado,
onde o medo e a liberdade
caminhavam lado a lado!

João Pessoa, 14/03/2010.

quinta-feira, 11 de março de 2010

Fulô do Flamboyant



Oh fulô do Flamboyant!
Enfim tu desabrochaste;
tão rubra, porém tão sã,
que o caos do dia acalmaste!

E quem passa nesta praça,
ao te ver, logo já sente
todo torpor que transpassa
do teu encarnado ardente!

Já tu (Oh linda fulô!),
nos olhares, perseguida;
acentuas tua cor,
de vergonha, enrubescida!

Mas, fulô do flamboyant,
não se ponha envergonhada
por ser a fulô terça,
no outono, tão sonhada!

Pois logo o triste inverno,
teu vigor, irar ceifar
até que volte o outono
pra, de novo, de pintar!

E eu aqui sabendo disto,
com o coração na mão,
rogo-te e peço o visto
da tua compreensão!

Peço-te, sem hesitar,
linda flor do Flamboyant:
Deixe eu viver a te olhar
enquanto houver amanhã!

João Pessoa, 11/03/2010.

terça-feira, 9 de março de 2010

Ela!

Ela é assim tão meiga
que a todo mundo conquista.
Seu riso torna manteiga
o peito que à avista!
Seu olhar é vida pura.
Em verde ela é madura,
em azul ela é serena,
para o mundo ela é um anjo
e ao coração do marmanjo
é lei que prende e condena!

Ela é dessas raridades:
uma mulher obra-prima!
Ela cresceu sem maldades,
tem a alma de menina!
Ela é toda amorosa,
doce, terna, carinhosa,
etc. e coisa e tal...
Ela é sorriso no tédio!
Ela é o melhor remédio
pra qualquer tipo de mal!


João Pessoa, 09/03/2010.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Eu corri porqu'era mole



Alaíde, Adalgisa
Alessandra, Aletéia
Angelita, Albenisa
Araceli e Andréia
Adriana, Adelina
Adelaide, Afonsina
Arenice e Arlete
Anatole, Aureliana
Aparecida, Alana
Ariovanda, Anete!

Bárbara, Benta e Bete
Bianca, Brenda, Belina
Berenice, Bernadete
Bruna, Branca, Bernadina
Cacilda, Carla, Carlene
Claudenice, Claudilene
Cleide, Clécia, Cleonice
Clementina, Cris, Chaiane
Coralina, Cristiane
Cremilda, Creusa, Clarisse!

Dagmar, Dâni, Daiane
Dafne, Dalva e Darlene
Débora, Délia, Diane
Dioclécia, Dulcilene
Dejanira, Darcivana
Denazaide, Deliana
Dilma, Diva, Divinéia
Derci, Desirré, Dantela
Deodora, Daniela
Dora, Deise, Dulcinéia!

Edilaine e Efigênia
Eleonora, Eloísa
Érica, Edna, Ênia
Ermelinda, Ema, Elisa
Emanuelle, Emeline
Expedita, Eveline
Etiene, Erundina
Eunice e Elisete
Edineusa, Elisabete
Eleutéria, Etelvina!

Fabiane, Filomena
Flávia, Flúvia, Florentina
E tem mais uma centena
E essa lista não termina
Me confesso um mequetrefe
E parando pelo "efe"
Digo: foi mulher a fole
Foi mulher até o Z
Que queria o meu querer
E eu corri porqu'era mole!

Timbaúba, 01/03/2010.

sábado, 6 de março de 2010

A Peleja de Biuzin com a Morte

No interior dos roçados
Tem cada coisa maluca,
Cada causo do encantado,
Mal-assombro de arapuca,
Qu’eu sempre fico espantado
Como que um semi-letrado
Tem tanto tino na cuca!

E Biuzin é um desses seres,
Matuto muito do astuto,
Que quando sem afazeres
Puxa do seu cocuruto
Uma estória encantada
Muito bem fantasiada
Dando-lhe novo atributo!

Eu vou lhes dar uma amostra
Das estórias que ele conta,
Onde a criatividade
Segue muito além da conta
E esta estória é bem forte,
Pois conta o dia em que a morte
Tentou fazer-lhe uma afronta:

A morte chegou num sonho
Que Biuzin teve outro dia
E com seu jeito medonho
Quis lhe fazer companhia,
Mas Biuzin sem embaraço
Deu-lhe um pau, deu-lhe um regaço
Que a morte quase morria!

Ele me contou a arenga
Que no sonho aconteceu,
Disse que sem lenga-lenga
A morte lhe apareceu,
Veio em sua direção
Com uma foice na mão
E um capuz da cor do breu!

Disse que ele não abriu,
Nem sequer se arrepiou,
Olhou pra ela, grunhiu,
A sua faca puxou;
Esperou (dando-se ao luxo)
E deu-lhe a faca no bucho
Quando ela se aproximou!

Disse então que alí a morte
Arregalou dois oião,
Colou as mãos no corte,
Que a foice caiu no chão,
Olhou pra ele com medo;
Sussurrou, mexeu o dedo
E sumiu de supetão...

Emendou que a tinhosa
Antes de se escafeder
Sussurrara melindrosa
Que não iria volver,
Pois era uma morte fraca
Pra enfrentar sua faca
E fazer ele morrer...

-Eita sonho sem noção!
Eu de besta ainda disse,
Mas Biuzin falou: “Pois não
Parece até maluquice...
Pois quando eu me acordei
No chão do quarto encontrei
Esta foice aqui, já visse...?”

João Pessoa, 06/03/2010.

quinta-feira, 4 de março de 2010

Essência

O ser humano é feito de medos
Medos do dia ou medos da noite
Medos traumáticos ou medos ledos
Medos do afago ou medos do açoite!

O ser humano é feito de dores
Dores agudas ou as dores crônicas
Dores do ócio ou as dos labores
Dores concretas ou dores platônicas!

O ser humano é feito de sonhos
Sonhos pequenos ou sonhos gigantes
Sonhos sensatos ou sonhos bisonhos
Sonhos plausíveis ou sonhos distantes!

O ser humano é feito de amores
Desde os mais vis ou amores totais
Amores mato ou amores flores
Amores sós ou amores plurais!

O ser humano é feito de medos!
O ser humano é feito de dores!
O ser humano é feito de sonhos!
O ser humano é feito de amores!

João Pessoa, 04/03/2010.