sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Extrato I

A tua pele ao sol tem cor de mel,
Sorriso igual ao teu não há no mundo
E o teu olhar castanho é oriundo
D’abóbada onde adormece o céu;
O teu cabelo escorre como um véu
Guardando da ribalta um infante rosto,
Na osfresia o teu cheiro tem gosto
E a tua boca esconde um firmamento
Onde um palavrear, no tempo ao vento,
Navalha o dia que morre deposto.

E como não te amar em demasia
Se o quadro que pintaste no meu peito
Tem o traço mais firme e perfeito,
Pintado nas cores da fantasia.
Amar-te eu já queria e não sabia;
Sonhar-te era algo rotineiro
E te encontrar, o ato derradeiro
Que culminou num sentimento lato,
Extrapolando o meu melhor extrato,
Na forma do amor mais altaneiro!

Autor: Jessé Costa.
João Pessoa, 20/02/2009.



GLOSSÁRIO


  • Abóbada - teto arqueado;
  • Osfresia - faculdade de sentir facilmente os cheiros;
  • Ribalta - série de luzes que ficam ao pé do palco e que iluminam a cena.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Jeitinho Nacional

Quem não tem pião brinca com carrapeta
Quem não ger’um filho educa um cachorro
Quem não vê montanha escala um morro
Quem não tem dinheiro se mete em mutreta
Quem não tem mulher tem que entrar na punheta,
Mas há quem prefira dizer “masturbar”,
Quem não tem pai rico vai ter que estudar
Se não estudar vai morrer na pobreza
Quem tem precisão fala com gentileza
Quem é abastado diz: vá se lascar!

Autor: Jessé Costa.
João Pessoa, 18/02/2009.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Espelho de Luna



Com tantos milhões de anos
Como pode ser tão nova;
Ter tantas faces e planos
E quatro fases de prova,
Que a lunação renova
Por ser do sol a aluna
No mar guiando a escuna,
Encantando os pescadores
Com seus raios refletores
Que vem do espelho de Luna?!

Autor: Jessé Costa
João Pessoa, 12/02/2009.

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Um Pé de carambola

(em memória da minha avó Maria de Lourdes)


De fronte a antiga casa
Onde cresceu o menino
A luz do sol matutino
Tocava sua copa rasa;
Fazia no verde a brasa;
Despertava a passarada,
Que saia em revoada
Pra mais um dia tão duro;
E o pé, de sombra e ar puro,
Fincava-se na calçada

É verde a recordação
Da planta cheia de vida
Frondosa e toda florida
No tempo da floração,
Era quase um batalhão
Repleta de soldadinho;
Lá tudo que é passarinho
Repousava em segurança,
Onde nem felino alcança
E nem bala de chumbinho.

Pois era um pé encantado
Com flores tom violeta
Que o vôo da borboleta
Tornava mais destacado;
Já o seu fruto estrelado,
Verde-amarelo [a nação],
Formava a constelação
D’estrelas de carambola;
E adocicava a beiçola,
A vista e o coração!

Mas de fronte a antiga casa
Onde cresceu o menino
Para total desatino
Hoje o sol a rua abrasa
A vida não tem mais asa,
O concreto a emoldurou,
E o progresso levantou
Uma cinzenta gaiola
Onde um pé de carambola,
Ali, nunca mais florou!

Autor: Jessé Costa.
João Pessoa, 08/02/2009